segunda-feira, 14 de junho de 2010

REGRA DE FÉ DA IGREJA E DO PROTESTANTISMO - IRC/LCP II-II-1

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A REGRA DE FÉ PROTESTANTE - Pg. 209


Livro II

São Pedro, Papa Imortal

CAPÍTULO II - PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DO PROTESTANTISMO

§ 1. - A regra de fé protestante e a Bíblia.
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SUMÁRIO - Regra de fé na Igreja Católica. - Regra de fé protestante. - Sua crítica à luz do Evangelho.



Se Cristo, sob pena de eterna condenação, nos ordena aderir à sua doutrina, deve subministrar-nos os meios necessários de conhecê-la com certeza. Quais este meios: Tal é, na sua simplicidade a questão importantíssima da regra ou norma de fé.

Depois de quanto deixamos largamente expendido na 1.ª parte deste trabalho, a resposta da Igreja católica não pode ser duvidosa. Recordemos os resultados adquiridos.

Cristo instituiu uma sociedade orgânica, hierárquica, visível - a sua Igreja, Ecclesiam meam, e constituiu-a depositária do patrimônio das verdades reveladas. "Ide e ensinai, disse ele aos seus apóstolos, tudo o que eu vos mandei; eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos". Math., XXVIII, 20. "Eu vos enviarei o Espírito Santo que vos ensinará tudo o que eu vos disse". Joann., XIV, 26. Com estas palavras, o divino Salvador fundou, entre os homens, um magistério autêntico, vivo e indefectível. Sua Igreja será "a coluna e o firmamento da verdade". Tim., 3, 15. Não nos resta, pois, nenhuma sobra de dúvida: a Igreja é a depositária autorizada da verdade, o seu magistério é a regra viva de nossa fé. A assistência especial do Espírito divino, assegurada por


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uma promessa infalível, não lhe permitirá nunca alterar um iota da doutrina que lhe foi confiada.

As fontes, aonde, através dos séculos, vai a Igreja beber e interpretar, sem possibilidade de erro, os ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a tradição. A Bíblia é a palavra divina escrita; à Igreja pertence guardá-la, preservá-la da corrupção dos tempos, dar-lhe a interpretação autêntica. Mas nem todos os apóstolos escreveram, nem os que escreveram limitaram os seus ensinamentos à palavra escrita. Pregaram o Evangelho e constituíram sucessores, depositários fiéis das verdades ensinadas oralmente e encarregados de as transmitir às gerações seguintes. O complexo destas verdades divinas atestadas pelos apóstolos e conservadas pelos que lhes sucederam é o que propriamente chamamos tradição católica. Na liturgia, a arqueologia cristã, os decretos dogmáticos, os concílios e principalmente os escritos dos santos Padres e Doutores da Igreja constituem os monumentos em que se conserva esta tradição primitiva. Diremos então que as obras dos Santos Padres, tomadas singularmente, são documentos infalíveis, equiparáveis à Escritura? De modo nenhum. A fim de que o testemunho patrística constitua argumento de tradição divina, é necessário que se verifiquem simultaneamente as seguintes condições: 1.º) que a matéria de que trata seja dogmática, ou moral. Tudo quanto escrevem os SS. Padres sobre outros assuntos tem apenas a autoridade de um escrito humano; 2.º que falem como doutores, ou testemunhas públicas, isto é, que ensinem ser uma verdade revelada, ou atestem a crença de seu tempo em uma doutrina como revelada. Todas as explicações do dogma ou interpretações do Escritura propostas como opiniões pessoais não têm absolutamente valor dogmático; 3.º) que atestem uma verdade em consenso moralmente unânime. Não sendo os SS. Padres pessoalmente infalívieis, é possível que um ou outro, por circunstâncias particulares de tempo e lugar, desgarre da verdade revelada. A História mostra-nos, de fato, que esta hipótese não é mera possibilidade.


Ora, verificadas estas cláusulas, quem não vê que a autoridade dos SS. Padres constitui um argumento irrefragável em favor da revelação de um dogma? Com efeito, supor então a possibilidade de erro é supor que a Igreja se possa enganar, é supor que a Igreja, pelo órgãos do seu magistério, pelo seus bispos e doutores, possa haver ensinado universalmente e por séculos uma falsidade como verdade divina. Que seria, nesse caso, de sua infalibilidade? Que seria da assistência prometida por Cristo?

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Que seria da autoridade da própria Escritura que a chama de coluna e firmamento da verdade?



Tal na sua simplicidade, coerência e harmonia a doutrina católica. Se o Sr. C. PEREIRA, antes de discutir sobre estes assuntos importantes tivesse tido a advertência de abrir um manual de teologia, não houvera escrito que "Roma arbitrariamente estende esse infalibilidade aos infinitos e indefinitos documentos eclesiásticos que ela chama tradição e voz da greja", p. 32. Não! Roma nunca perpetrou dal desacerto. Mas, nos seus momentos de lazer, o ilustre gramático entrega-se com volúpia ao desporto intelectual de devanear doutrinas fantásticas, para depois ter o fácil prazer de confutá-las - e cantar triunfo contra a odiada Roma. Mas, senhor, não são esses processos de polêmica séria!


Passemos agora à doutrina protestante acerca da regra de fé.


Se LUTERO tivesse vivido no século XX, outra houvera sido, muito provavelmente, a evolução de suas idéias. No dia em que Roma o condenasse, o frade soberbo atiraria o burel às urtigas e passaria para os arraiais do racionalismo e do livre pensamento. Um opúsculo ou artigo de gazeta viria pouco depois dar conta ao público dos motivos de sua nova atitude religiosa. A Igreja asfixia as inteligências. Os dogmas de Roma já não eram compatíveis com as suas profundas convicções. Seu espírito precisava de ar e luz. A atmosfera medieval de um convento não era feita para a sua alma livre. Inteligência, coração, necessidade de ação social, tudo convidava de há muito a romper os grilhlões com o que o vinculara uma resolução irrefletida da juventude. Só esperava a oportunidade e esta oferecia-lhe agora o novo ato de tirania papal. Doravante se envergonharia do nome de católico: seria livre pensador, racionalista; seguiria a corrente poderosa dos espíritos fortes da época.


Outras, porém, eram as condições do século XVI. A linguagem dos egressos de hoje fora então um contra-senso e um anacronismo. A sociedade não havia ainda perdido o pudor cristão para vitoriar publicamente as fanfarronices da incredulidade chibante. VOLTAIRE e NIETZSCHE, D'HOLBACH e HAECKEL ainda não tinham apontado no horizzonte da filosofia sem fé.


O frade renegado quis, apesar de tudo, conservar-se cristão. Mas como salvar o cristianismo depois de negado o poder do Papa e conculcada a autoridade da Igreja a quem Jesus o houvera confiado? No espírito do fr. MARTINHO faiscou uma idéia luminosa.


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Ao fugir do santuário, sobraçou furtivamente um livro que jazia no altar. Era a Bíblia. Com ela haveria de reconstruir todo o edifício religioso que a revolta acabara de destruir na lógica de suas consequências. A pedra desencaixada do antigo templo seria o fundamento da nova construção que premeditava.

E sobre a Bíblia o frade fundou uma religião nova. Quis honrá-la ainda com o título glorioso de cristianismo, mas a posteridade, mais justa, deu-lhe um nome de partido: chamou-a luteranismo, chamou-a protestantismo.


Na nova seita não há autoridade, não há unidade, não há magistério de fé. Cada sectário recebe um livro que o livreiro lhe diz ser inspirado e ele devotamente o crê sem o poder demonstrar; lê-o, entende-o como pode, enuncia um símbolo, formula uma moral e a toda esta mais ou menos indigesta e ferruginosa elaboração individual chama cristianismo evangélico. O vizinho repete na mesma ordem as mesmas operações e chega a conclusões dogmáticas e morais diametralmente opostas. Não importa; são irmãos, são protestantes evangélicos, são cristãos, partiram ambos da Bíblia, ambos forjaram com o mesmo esforço o seu cristianismo.


Aí está o protestantismo na sua essência. Sobre dogmas particulares não há por que inquirir, nem discutir. Não os tem, ou cada indivíduo tem os seus. Só um princípio é comum às mil variações da seita proteiforme: a suficiência das Escritura interpretada pelo livre exame dos indivíduos. "A Bíblia, só a Bíblia e nada senão a Bíblia - eis a religião do Protestantismo evangélico", pp. 34-5, doutrina o Sr. C. PEREIRA.

Analisemos este princípio fundamental da própria Bíblia, à luz da história do cristianismo primitivo e à luz da razão e do bom senso.




"A Bíblia, e só a Bíblia: eis a única regra de fé". Verdade capital, fundamento de todo o cristianismo e que, por isso mesmo, se devera encontrar expresso com um clareza insofismável na própria Escritura. No entanto, abro a Bíblia, percorro-a de cabo a cabo, e não a encontro uma só vez nem sequer acenada! Que terrível decepção! Para firmar a sua norma de fé, o protestantismo começa por violá-la flagrantemente. A contradição irrompe logo pela primeira porta e crava-se no coração do sistema.


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LUTERO e os seus discípulos encalçados pelo lógica dos católicos deram-se a folhear as Escrituras à cata de textos que os justificassem. Baldado esforço. Nenhum protestante instruído ousaria hoje fazer gala das investigações exegéticas dos primeiros reformadores. Nem foram mais felizes os que lhes sucederam na desesperada empresa. Assim, da sua excursão pelo imensa seara bíblica colheu o Sr. C. PEREIRA não mais de três textos! Quereis ver-lhes a força demonstrastiva?

O primeiro é de S. João, V. 39 "examinai as Escrituras". - O seu significado nem de longe acena à tese protestante. Cristo num discurso apologético prova contra os seus adversários a divindade de sua missão. Invoca primeiro o testemunho do Padre, depois o do Precursor, apela em seguida para os seus milagres e finalmente num argumento ad hominem aduz a verificação das profecias escritas: "Vós examinais1 as Escrituras cuidando ter nelas a vida eterna; pois são elas que dão testemunho de mim". Ver nestas palavras - dirigidas não aos discípulos mas aos adversários, propostas não como regra de fé do cristianismo senão como prova apologética de seu messiado - uma confirmação da teoria protestante é zombar da Escritura e insultar o bom senso dos leitores.


O segundo texto é tirado de S. Mateus, XIII, 43. Ao terminar a explicação da parábola do trigo e do joio diz Jesus: "Quem tem ouvidos de ouvir, ouça". O Sr. C. PEREIRA vê aí toda a doutrina da Reforma: só a Bíblia é regra de fé; só o livro exame deve interpretá-la. Se, a grande esforço, não chegais a enxergar naquelas palavras todas estas importantíssimas verdades, a culpa é vossa. Falta-vos aquela agudeza de intuição que caracteriza a exegese do ilustrado gramático.


O Apocalipse de S. João subministra-lhe outro passo não menos peremptório. "Bem-aventurdo aquele que lê ou ouve as palavras desta profecia". I, 3. O que diz o Discípulo amado, entende-se facilmente. Ler e ouvir a palavra inspirada é fonte de felicidade. A Igreja a lê todos os dias na sua liturgia e aconselha repetidamente a sua leitura aos fiéis. Mas daí à afirmação protestante vai um abismo que nem a hemenêutica mais atrevida é capaz de saltar.


Com estas infantilidades proferidas em tom de seriedade aruspicina, julga-se o Sr. C. PEREIRA no direito de concluir:

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1. O contexto mostra evidentewmente que scrutamini é forma de indicativo, não de imperativo.




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"estes passos e muitos outros 2 da Sagrada Escritura importam em um reconhecimento formal do direito, e, ainda mais, do dever do livre exame e juízo privado no estudo do código divino", p. 36. Quem tem ouvidos para ouvir ouça... e pasme diante desta lógica de por aí além!

Mas se a Escritura, nem mesmo torturada dá um só texto em favor do protestantismo, a sua origem, a sua índole, as suas declarações formais depõem contra ele.


Jesus Cristo só ensinou de viva voz, não escreveu uma só linha. - E todo o cristianismo deveria apoiar-se num livro! E Cristo não nos deu este livro! E Cristo não disse aos seus apóstolos: Sentai-vos, escrevei ou viajai e distribuí Bíblias; senão: ide e pregai; quem vos ouve a mim ouve. E os apóstolos foram fiéis à sua missão; poucos escreveram e pouco, todos pregaram e muito.


Já a Igreja estava fundada, já o cristianismo se havia propagado e não havia ainda um livro do Novo Testamento! O primeiro evangelho de S. Mateus, escrito em aramaico saiu na Palestina vários anos depois da ascensão do Senhor; o último, de S. João, veio à luz nos derradeiros anos do primeiro século. Durante este tempo a Igreja crescia e prosperava em todo o mundo. Qual era então a regra de fé dos cristãos: Qual o vínculo da doutrina integral de Jesus? O ensino oral, vivo, autêntico dos apóstolos ou dos a quem eles confiaram o governo e a doutrina das cristandades.3 Em que dia, em que ano, em que época cessou esta economia para dar lugar ao reino do livro? Só a Bíblia o deveria dizer. Di-lo? Não. Antes como depois da Bíblia, a Igreja continua sempre como a fundou Cristo, como a estabeleceram os apóstolos, afirmando o direito de ensinar de viva voz, de examinar e interpretar os livros que se apresentam como inspirados. Na história, nenhum vestígio de ab-rogação da antiga regra de fé.


Seria mesmo possível esta ab-rogação? Seria possível que a Igreja, mais tarde, substituísse outra norma de crer à que foi ensinada, praticada e inculcada pelo próprio Cristo e pelos apóstolos?

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2. Que pena terem eles ficado no tinteiro do erudito pastor.

3. Em duas admiráveis conversões relatadas por S. Lucas, salienta-se com admirável relevo a necessidade do ensino oral. Saulo, prostrado no caminho de Damasco pergunta a Jesus: Senhor, que quereis que eu faça? - Levanta-te, entra na cidade, e aí te dirão o que deverás fazer. Act. IX, 6. Não lhe dá uma Bíblia. - Voltava de Jerusalém o eunuco da raínha Candace de Etiópia e lia Isaias. Filipe, apóstolo, movido pelo Espírito Santo aproxima-se e pergunta-lhe: crês, porventura, que entendes o que estás lendo? - - E como o poderei entender, torna o eunuco, se não houver alguém que mo explique? Sobe então o apóstolo ao carro e, tomando ocasião do passo que acabara de ler, evangeliza-o e administra-lhe o batismo. Act., VIII, 26, sgs. - Onde a suficiência da Escritura interpretada pelo livre exame?


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Mas, enfim, os apóstolos escreveram alguma coisa; escreveram evangelhos e epístolas. Porventura pretenderam encerrar nestes escritos todo o cristianismo, todo o depósito das verdades reveladas? Basta considerar-lhes a índole e natureza para responder imediatamente e sem tergiversar: não. S. Mateus escreve para provar aos hebreus que Jesus é o Messias prometido. Da vida do Salvador escolhe os fatos que lhe faziam ao intento e omite os outros. São Marcos, que resume a pregação de S. Pedro, é ainda mais conciso e poucas notícias novas adianta às que já escrevera S. Mateus. Aos evangelistas anteriores S. Lucas acrescenta algumas parábolas, alguns milagres, alguns episódios da vida do Senhor. São João, a pedido dos fiéis, toma a pena para pôr em maior relevo a divindade de Cristo contra as heresias nascentes dos corintianos, ebionitas e nicolaítas.

E as epístolas? - Escrevem-nas os seus autores, segundo a oportunidade, para corrigir um erro, extirpar um preconceito, expor uma doutrina, premunir contra uma heresia, dar um conselho, etc. Surgem escândalos na igreja de Corinto? Dirige-lhe S. Paulo duas epístolas veementes. Ilaqueiam os judaizantes a boa fé dos Gálatas? Escreve-lhes o apóstolo precavendo-os contra as suas insídias. A Timóteo, a Tito manda conselhos, exortações, instruções sobre o modo de governar a Igreja, etc. - Em todo o Novo Testamento não há um só compêndio ordenado da doutrina cristã, nada que se pareça com um manual, um código, um catecismo destinado a substituir o magistério vivo e ser para o futuro o canal exaustivo do ensinamento cristão. À vista deste caráter evidentemente ocasional de todos os livros inspirados do N. T., como afirmar que só a Bíblia é fonte de fé, que só nela se encerram todas as verdades religiosas?


Há mais. Os próprios apóstolos que deixaram escritos e precisamente os que por último escreveram, são os primeiros a declarar que não escreveram tudo, são os primeiros a insistir em que se conserve a tradição do seu ensino oral. S. João remata o seu Evangelho advertindo que Jesus fez muitas outras coisas que não se acham escritas no seu livro nem em livro algum.4 O mesmo apóstolos termina as suas duas últimas epístolas dizendo expressamente que não quis confiar tudo à tinta e ao pergaminho, reservando para o comunicar de viva voz: os ad os loquemur.5
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4. JOAN., XX, 25.

5. 2 JOAN., 12; 3 JOAN., 14


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São Paulo não se cansa de inculcar a necessidade da tradição oral. Aos tessalonicenses : "Estai firmes, irmãos, e conservai as tradições que aprendestes ou de viva voz ou por epístola nossa".6 Na mesma carta: "Nós vos prescrevemos... que vos aparteis de todos os irmãos que andem desordenadamente e não segundo a tradição que receberam de nós".7 A Timóteo: "O que de mim ouviste por muitas testemunhas, ensina-o a homens fiéis que se tornem idôneos para ensinar aos outros.8 Aí está claro o ensino vivo, transmitido por tradição de uns a outros. O apóstolo já velho, nas vésperas do martírio, adverte a Timóteo a necessidade de prover quem continue o seu magistério. Nada de livre exame das Escrituras; sempre o ensino oral feito por mestres autorizados.


Nas suas duas epístolas ao mesmo discípulo, insiste ainda São Paulo para que conserve o bom depósito: Bonum depositum custodi.9 Com os corintos, na sua primeira epístola, congratula-se porque haviam conservado as suas tradições orais: "sicut tradidi vobis, praecepta mea sustinetis".10



De todos estes textos o Sr. C. PEREIRA nem uma palavra! Em vez de cantar em todos os tons o mesmo estribilho: a Bíblia, e só a Bíblia - fora melhor que a patenteasse aos seus leitores e lhes dissesse sinceramente: "Julgai. Em todo o N. T. nem uma só vez propõe explicitamente ou implicitamente a regra protestante. Em mil lugares diversos se inculca a necessidade do ensino vivo, a importância de conservar a tradição, a insuficiência da Escritura que, segundo afirma S. João, não encerra tudo o que ensinou o Salvador. Jesus Cristo nunca mandou aos seus discípulos que folheassem um livro para achar a sua doutrina, mandou pelo contrário aos fiéis, que ouvissem aos que ele mandara pregar: quem vos ouve, a mim ouve; se algum não ouvir a Igreja, seja considerado como infiel e publicano, isto é, não pertencente à minha Igreja; se algum não vos receber nem ouvir as vossas palavras, saindo da casa ou da cidade, sacudi o pó dos sapatos; Pai, oro, não só por esses (apóstolos), mas por todos os que hão de crer em mim mediante a sua palavra a fim de que sejam todos uma coisa só. Foi Jesus ainda quem prometeu o seu Espírito de Verdade, a sua assistência
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6. 2 Thess., II, 15.

7. 2 Thess., III, 6.

8. 2 Tim., II, 2.

9. 1 Tim., VI, 20; 2 Tim., i, 14.

10. 1 Cor., I, 14.


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espiritual, todos os dias até à consumação dos séculos, para que os apóstolos, vivendo moralmente em seu sucessores, continuassem até ao fim dos tempos a ensinar sempre tudo o que ele nos mandou. Eis, meus caros leitores, o que diz a Bíblia".Assim devera falar o Sr. C. PEREIRA, se desejasse ser sincero e realmente lhe interessasse o conhecimento exato e fiel das Escrituras. Mas é mais fácil repisar o estafadíssimo chavão: A Bíblia, só a Bíblia. É mais cômodo passar a esponja na história e continuar a escrever: Roma fecha a Bíblia; só a Reforma abriu aos povos o Livro da palavra de Deus.


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